Freedom Ship: a cidade flutuante que vai navegar pelos oceanos

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Imagine uma fileira de prédios de 25 andares estendendo-se ao longo de 1,3 quilômetro, tudo isso flutuando sobre as águas do oceano. Planejada durante a década de 90, essa estrutura gigantesca, conhecida como Freedom Ship International, promete oferecer um estilo de vida distinto a quem está disposto a viajar constantemente ao redor do mundo e tem o dinheiro necessário para bancar tal empreitada.

Com 1,3 quilômetro de comprimento, 221 metros de largura e 103 metros de altura, o navio, que é mais alto do que o comprimento de um campo de futebol, pretende ser a casa de 60 mil residentes permanentes (20 mil deles parte da tripulação), permitindo que 40 mil pessoas adicionais vivam temporariamente em meio a suas estruturas. A intenção do projeto não é somente oferecer um estilo vida digno de um cruzeiro, mas também ser um oásis para aqueles que desejam viver em um ambiente no qual todas as culturas têm seu espaço próprio.

Desenvolvido pelo engenheiro Norman Nixon, o projeto gigantesco, que já deveria estar pronto, atualmente não passa de um mero sonho. Entre os problemas encontrados no caminho para torná-lo realidade está a dificuldade de atrair capital de risco, algo que se tornou ainda mais difícil graças à crise financeira global recente.

Entusiasmo renovado

Considerado abandonado durante alguns anos, o projeto do Freedom Ship International passou a ser reconsiderado graças a uma mudança no clima econômico global. Atualmente, o principal nome por trás da iniciativa é Roger Gooch, parte do time que trabalhou inicialmente junto ao ex-presidente norte-americano Richard Nixon. Após algumas análises, ele decidiu que a melhor forma de tornar a cidade flutuante uma realidade era chamar a atenção da imprensa e, consequentemente, de investidores interessados.

(Fonte da imagem: Divulgação/Freedom Ship International)

“Isso virou algo viral na internet”, afirmou Gooch ao site Business Insider. “Nos últimos três ou quatro dias fomos inundados por emails e respostas e coisas do tipo, a maioria das quais são — para ser bem sincero — bastante positivas”, complementa.

A imprensa é uma peça-chave para que sua companhia consiga ultrapassar a principal barreira enfrentada pelo Freedom Ship: seu custo astronômico. Inicialmente previsto para custar US$ 6 bilhões, atualmente o projeto apresenta um orçamento que varia entre US$ 9 bilhões e US$ 11 bilhões — segundo Gooch, um investimento que deve oferecer um bom retorno àqueles que se interessarem pelo por ele.

O executivo declarou que a atenção recebida durante os últimos meses de 2013 resultou no contato de vários investidores privados, embora até o momento nenhuma empresa de capital de risco tenha entrado em contato. Atualmente, seu time está interessado em firmar parcerias com “entidades marítimas privadas bem estabelecidas ou notáveis” para fechar contratos de “capitalização de construção equitativa” — um sistema no qual empresas envolvidas na construção teriam oportunidades equitativas de compensar seus investimentos através da obtenção de descontos e serviços oferecidos pelo gigantesco navio.

Projeto faraônico

Caso o Freedom Ship International consiga sair do papel, ele deve rapidamente se tornar uma das maiores obras produzidas pela humanidade. A gigantesca estrutura será construída sobre 520 células estanques de aço com 24 metros de altura, unidas entre si para formar unidades maiores com aproximadamente 91x122 metros.

(Fonte da imagem: Divulgação/Freedom Ship International)

Essas unidades maiores vão ser lançadas ao mar, onde serão unidas para formar a base do navio, que, finalizado, vai apresentar 1,3 quilômetro de extensão. Segundo a visão original de Norman Nixon (falecido em 2012), serão necessários três anos de trabalho para que a gigantesca cidade flutuante seja totalmente finalizada.

Para impulsionar o gigantesco navio através do oceano, será usada uma nave equipada com 100 motores movidos a diesel, cada um deles capaz de gerar 3.700 HP, cujo custo individual beira US$ 1 milhão. Naturalmente, o alto custo da construção do navio será repassado a seus futuros residentes, que pagarão até US$ 11 milhões para adquirir um dos diversos espaços habitacionais da embarcação.

Nos 25 andares do Freedom Ship International será possível encontrar espaços residenciais, bibliotecas, escolas, um hospital de primeira classe, cassinos, escritórios, depósitos e empresas responsáveis pela fabricação de itens leves. O conceito também inclui diversas áreas recreativas e espaços dedicados à prática de esportes, com direito até mesmo a um estádio de baseball completo.

(Fonte da imagem: Divulgação/Freedom Ship International)

Gooch está confiante quanto à viabilidade do projeto, afirmando que ele não deve ser considerado como uma cidade em um barco, mas sim como uma “superplataforma”. Segundo ele, há projetos do tipo sendo usados em algumas partes do mundo, como a imensa plataforma que o Japão utiliza como um aeroporto.

“As superplataformas não são a questão. O verdadeiro mistério é descobrir se uma cidade autônoma circunavegando o mundo é economicamente viável, e realmente acreditamos que ela pode ser”, afirma ele. No entanto, as alegações de Gooch são enfraquecidas pelo fato de a maior parte dos responsáveis pela visão original do Freedom Ship não estarem mais envolvidos na empreitada, e o time atual não conta com um gerente de projeto tampouco com arquitetos marinhos.

Críticas ao projeto

Mesmo após o retorno do Freedom Ship International aos holofotes, o projeto já era vítima de uma boa dose de críticas. Em 2001, o ativista político e teórico econômico Patri Frideman afirmou que a iniciativa é totalmente irreal em suas pretensões — posição que ele mantém mais de uma década após suas declarações iniciais.

“Eu ainda estou bastante pessimista”, afirmou Friedman ao Business Insider. Para exemplificar seu ponto de vista, ele citou o navio de cruzeiro residencial The World, operado pela Risidensea, que, mesmo sendo 30 vezes menor que o Freedom Ship, passa por diversas dificuldades financeiras.

Segundo o ativista, outro problema está relacionado à forma de financiamento escolhida. “Aqui no Vale do Silício, você pode levantar 1 milhão de dólares com pouco mais do que um bom currículo e uma boa ideia, o que pode transformá-lo no próximo Google ou Facebook”, afirma ele. “Mas mesmo o Facebook não levantou 1 bilhão de dólares antes de janeiro de 2011, quando a companhia já possuía 600 milhões de usuários e um valor estimado em US$ 50 bilhões”, complementa.

“Em vez de tentar construir um produto gigantesco e então vendê-lo, startups agora se focam em criar o ‘produto mínimo viável’”, explica Friedman. “Essa é a menor parte que eles podem construir para atrair usuários ou, ainda melhor, consumidores que iniciam a tração de mercado, respostas e, claro, vendas. O resultado desse teste determina se capitalistas de risco vão financiar seu novo estágio de desenvolvimento. Quando seu produto mínimo viável é uma cidade com uma milha de extensão no mar que custa US$ 11 bilhões, é hora de voltar ao quadro de desenhos”, finaliza.

Paraíso fiscal para os ricos?

Outra crítica feita ao Freedom Ship International reside em sua política fiscal: segundo os administradores, não será preciso pagar qualquer espécie de imposto para estabelecer lojas, comprar ou vender produtos. “Nada de imposto de renda, nenhuma taxa sobre imóveis, nenhum imposto sobre vendas, negócios ou importações”, descreve a página oficial da cidade flutuante.

Apesar de os responsáveis pelo projeto afirmarem que ele não foi concebido com o intuito de se tornar um paraíso fiscal (os residentes teriam que continuar pagando taxas em seus países de origem), a falta de informações nesse sentido deixa uma impressão contrária a isso. As políticas expressas pelos responsáveis pela iniciativa mostram que ela tem um grande potencial de se transformar em uma espécie de “oásis fiscal” a bilionários que desejam escapar de qualquer espécie de imposto.

(Fonte da imagem: Divulgação/Freedom Ship International)

Segundo Gooch, o navio vai procurar um país com leis favoráveis a seus investidores para realizar seu registro (provavelmente os Estados Unidos não estão incluídos na lista de opções) e nunca vai aportar em nenhuma localização — algo que seu tamanho gigantesco tornaria inviável. Ele afirma que toda a comunicação com o mundo exterior será feita através de barcos e aeronaves, responsáveis por realizar o abastecimento da cidade.

O executivo também afirma que o projeto não tem intenções elitistas como as vistas no cruzeiro “The World” ou em outras linhas de cruzeiros luxuosos. No entanto, ele afirma que algumas das unidades disponíveis poderão ser alugadas por US$ 50 mil (o que garante o direito de usá-las durante duas semanas) ou compradas por valores que superam os US$ 7 milhões. “Essa é uma cidade autônoma e autossustentável em uma plataforma aquática, não um navio de cruzeiro modificado para elitistas”, diz Gooch.

Dependência do interesse global

Apesar dos desafios que o Freedom Ship International deve enfrentar para conseguir sair do papel, Gooch se mantém esperançoso quanto ao futuro da empreitada. “A questão atual é se há interesse suficiente em uma escala global”, afirma ele.

(Fonte da imagem: Divulgação/Freedom Ship International)

“Para o primeiro navio, precisamos somente de 50 mil pessoas interessadas entre um universo de 3 bilhões de indivíduos, e, computando nossos números, acreditamos que teremos que construir 2 ou 3 navios futuramente. Mas será que o tempo certo é agora, nesta década? Não temos certeza quanto a isso ainda, e é por isso que estamos explorando a ideia da maneira atual, para ver se há demanda e interesse”, explica.

Caso tivesse a oportunidade de morar na cidade flutuante, Gooch afirma que não pensaria duas vezes antes de aceitá-la. “Eu fui comprado pelo conceito. A primeira vez que ouvi sobre ele, eu pensei: ‘Se vocês conseguem construí-lo, eu viveria nele’. Eu só gostaria que isso acontecesse enquanto ainda estou vivo, então é melhor eu correr com isso”, finaliza.

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