Conheça Euphonia, a máquina falante do século XIX

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Câmaras de ar e 16 teclas davam voz a Euphonia. (Fonte da imagem: Reprodução/Irrationalgeographic)

Um som monótono e fantasmagórico atrai os olhos e deixa os ouvidos de alguns poucos expectadores atiçados. Em um salão londrino, uma bizarra demonstração acontece. O ano é 1846, e Joseph Faber, o pai da monstruosa criatura, parece não ter dormido muito bem. Seu terno está sujo, e os cabelos e barba do professor imploram pelos cuidados de um barbeiro. Mas o inventor e astrônomo alemão não é, desta vez, o centro das atenções.

Acontece que o hino da Inglaterra começa a ser cantado por Euphonia, nome de uma das primeiras máquinas falantes já inventadas. A caixa de fala da boneca consiste na combinação entre câmaras de ar, 16 diferentes teclas capazes de modular o som soprado e uma língua artificial. E, na tentativa de criar um laço empático qualquer, um rosto apático enfeita o órgão capaz de falar.

Uma máscara falante do século XIX

A breve história contada pelas linhas desses dois primeiros parágrafos é verossímil. Baseado nos relatos reproduzidos pelo escritor David Lindsay, o evento que deixou uma Londres perplexa aconteceu na metade do século XIX. Na intenção de criar a reprodução “orgânica” dos sinais emitidos pelo recém-inventado telégrafo (Samuel Morse, 1835), o cientista alemão Joseph Faber deu forma a um dos primeiros mecanismos capazes de reproduzir sons parecidos com a fala humana.

Qualquer língua europeia podia ser soprada pela máquina. (Fonte da imagem: Reprodução/Iirrationalgeographic)

“Através do bombeamento de ar por um fole, e manipulando uma série de placas, câmaras e outros aparelhos (incluindo uma língua artificial), o operador podia fazer [a máquina] falar em qualquer língua europeia”, escreveu Lindsay. Ao trabalhar por 17 anos no aperfeiçoamento de Euphonia, Joseph Faber emplacara algumas tão esperadas exibições do que poderia significar o futuro do envio e recebimento de mensagens através de uma mídia pioneira.

Uma voz audível, mas invisível

“Não tive dúvidas de que o professor tinha dormido na mesma sala de Euphonia – o monstro científico ‘Frankenstein’ dele – e senti a influência velada de uma ideia de que os dois estavam destinados a viver e a morrer juntos”. Este trecho, também retirado de uma das obras de Lindsay, pode traduzir os resultados obtidos por Faber durante toda a sua atravancada vida.

Alexander Graham Bell segurando um protótipo de telefone. (Fonte da imagem: Reprodução/Irrationalgeographic)

Apesar de ter inspirado o desenvolvimento de aparelhos que, depois, viriam a se tornar protótipos de telefones, Faber, o inventor, acabou não recebendo grandes créditos por sua obra. Alexander Graham Bell, um dos únicos admiradores das possibilidades inauguradas por Euphonia, chegou a elaborar um modelo primário de telefone já no início do século XX – o que deixou patente a relevância das pesquisas feitas pelo professor alemão.

Juntos em vida, eternamente selados em morte

E a previsão descrita por Lindsay acabou se concretizando. Joseph Faber suicidou-se em 1860 – mas não antes de destruir Euphonia, peça por peça. O papel tecnológico e artístico (se há aí alguma distinção entre ambos os “campos”) interpretado pelo professor marca um dos momentos mais expressivos do poder criativo dos homens e coloca, certamente, uma contundente questão em xeque: a construção do conhecimento faz-se apenas a partir de grandes cataclismos no âmbito das ciências? Ou o “homem comum”, na realidade, não é um anônimo na multidão?

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