Fanboys: quando os consumidores se transformam em torcedores de uma marca

Imagem de: Fanboys: quando os consumidores se transformam em torcedores de uma marca

(Fonte da imagem: Reprodução/VG24/7)

“O PS4 tem um hardware melhor, se liga”. “O Xbox One tem computação em nuvem e um controle mais anatômico”. “Vocês vão ver quando um novo Mario ou Zelda sair para Wii U”. “Android é open source, Apple fica no mundinho dela”. Essas discussões são frequentes em fóruns e comentários de matérias, inclusive aqui no BJ.

O que será que justifica essa paixão a ponto de o seguidor de uma marca defendê-la a unhas e dentes como se ela fosse seu time de futebol do coração? É bem possível que você se enquadre em algumas características daquilo que chamamos de “fanboy” – e isso não é necessariamente ruim. Porém, assim como tudo na vida, qualquer coisa em exagero pode culminar num tom desagradável. Se você tem uma opinião muito forte a respeito de uma marca, provavelmente é um fanboy e nem sabe.

Mas enfim, o dicionário diz o que é um fanboy?

A maioria não. O termo nada mais é do que uma derivação de “fã”, indivíduo que manifesta grande admiração ou interesse por alguém/algo (times, marcas, artistas, políticos, músicos etc.). “Boy” é uma palavra que pode ter carga pejorativa e geralmente se encaixa em apelidos de tom duvidoso – vide “playboy” (garotos mimados), ”gogo boy” (dançarinos genéricos), entre outros.

Será que isso é um "caixista"? (Fonte da imagem: Reprodução/WhatCulture)

É até estranho pensar que a definição de “fanboy” não é autoexplicativa. Na internet, o termo parece uma bomba arremessada no meio de discussões. Quando um acende o pavio, o restante começa a se manifestar e as brigas em torno de uma marca rolam soltas.

Não há um período preciso da origem do termo “fanboy”, mas os registros dão conta de que a palavra surgiu lá nos meados de 1920, quando incendiaram as primeiras discussões em torno de histórias em quadrinhos (forte item de entretenimento da época), e significava literalmente um “jovem fã”. Segundo Harry McCracken, jornalista norte-americano que atuou na CNET e na revista PC World, o termo é uma junção de “fan” e “funboy”, cujo propósito era ser “depreciativo, mas de modo amistoso”. O termo acabou se infiltrando no segmento tecnológico e na cultura geek – na qual os games se inserem como vertente mais forte nos tempos atuais.

As derivações do fanboy – “haters”, “trolls” e outros

Diversas figuras camufladas por variados apelidos permeiam a internet. Em comentários aqui no BJ (sim, nós lemos tudo), é absolutamente comum os “haters” se manifestarem. O termo talvez se refira a uma renovação do “do contra”, indivíduo que é sempre contrário ao que lê ou vê e só sabe criticar sem enxergar as vantagens – talvez porque não as queira enxergar.

Os “trolls” são internautas que simplesmente querem ver o circo pegar fogo. Eles aproveitam a seção de comentários para tacar a lenha na fogueira. Numa notícia bombástica e que talvez nem tenha muito a ver com o universo daquilo que ele curte, o troll vai lá e joga tudo no ventilador para incendiar os comentários. Alguém aí se lembra da redenção da Microsoft quando ela resolveu voltar atrás com todas as suas políticas restritivas? Clique aqui para refrescar a memória. Trolls, haters e fanboys não faltaram. São verdadeiros trolleiros ou trolladores.

Um "trolleiro" ou "trollador" é mais ou menos isso aí: pisa em cima das marcas e só quer ver o circo pegar fogo entre os fanboys. (Fonte da imagem: Reprodução/Trollers)

Android x Mac – e na briga entram Samsung, LG, Sony Xperia, iPhone...

As discussões acaloradas não acontecem somente no universo gamer e no futebol. Elas rolam também nos assuntos pertinentes a super-heróis (DC x Marvel), filmes, canais de televisão e... Dispositivos mobile.

As fiéis legiões de seguidores da Apple formam filas homéricas no lançamento de um produto da marca. Guiados pela maçã de Steve Jobs, os fãs não abrem mão daquilo que julgam como o “sistema operacional mais estável e seguro” e não costumam entrar em discussões de fanboys por julgarem que seu aparelho é superior.

Os adeptos do Android têm na manga o forte argumento de que o sistema operacional da gigante Google tem a mesma filosofia liberal da empresa, isto é, um sistema “open source” que abre um leque de opções ao consumidor e deixa o aparelho em terreno compatível com praticamente quaisquer aplicativos.

Usuários da Apple sendo conduzidos ao lançamento de um novo produto da marca. (Fonte da imagem: Reprodução/PeorparaelSol)

Mas o grande lance dessa história de Android é que as brigas são “fratricidas”, isto é, “ocorrem entre irmãos”. Vejamos: marcas como Samsung, LG e Sony Xperia, as maiores em smartphones e tablets que não têm o emblema da maçã estampado no produto, têm fãs que brigam por razões menores, mas que são motivo de orgulho: estética do aparelho, poder de hardware, tamanho de tela etc., mesmo que todos usem Android. A briga entre Samsung Galaxy e Sony Xperia foi ganhando corpo com o decorrer do tempo – mas os donos desses aparelhos não perdem a chance de tirar uma casquinha de sarro da Apple quando podem.

A coisa é tão acirrada que diversas teorias conspiratórias surgem quando acontece algum acidente envolvendo esses aparelhos. Recentemente, um Galaxy S3 explodiu e causou ferimentos graves em uma jovem. Clique aqui e só dê uma conferida nos comentários. “Samsung e suas bombas de plástico”, diz um deles. O pavio é curto: os defensores da marca se pronunciaram e uma discussão quilométrica foi iniciada com a “oposição”.

Situação parecida ocorreu com um celular da LG, cuja bateria explodiu após quatro meses de uso. A marca não é motivo de tanta chacota como as outras, mas o fato deu corda para discussões. O maior orgulho dos “antiApple” talvez tenha sido um recente acidente que ocorreu na China. Um iPhone ligado à tomada liberou uma descarga elétrica e deixou um chinês em coma. Comentário número 1? “iPhone matando mais que a dengue”. Para alguns, a marca é uma “doença”.

Será que ele é fanboy da Apple? (Fonte da imagem: Reprodução/The Telegraph)

Os “xiitas” dos consoles

Nintendistas, sonystas e caixistas. Fãs fervorosos que não aceitam uma sugestão do tipo “quando você vai trocar de video game?”. Veja as alcunhas que esses fanboys costumam dar ao seu habitat:

  • “Big N” ou “Mariofans” para a Nintendo;
  • “Sonystas” ou PSFans” para os consoles da família PlayStation;
  • “Caixistas” no caso dos adeptos da Microsoft (o termo vem de “box” do Xbox, cuja tradução é “caixa” ou “caixa X”).

Os fanáticos ao extremo atribuem esses títulos a si mesmos e se agarram cegamente à marca ou à empresa, comprando briga com qualquer jogador que não esboce as mesmas emoções radicais que eles. Irritá-los é mexer no ninho de cobras.

Observe profundamente o olhar do rapaz. Agora tente falar mal da Nintendo. (Fonte da imagem: Reprodução/Ripten)Como irritar um fanboy

Os fanboys são facilmente comparáveis a torcedores de futebol. Você até pode começar a falar do time alheio, mas não se aventure muito em críticas ou vai sobrar para você numa longa discussão que pode se direcionar para um tom agressivo.

Não sugira que ele mude de time, isso não vai acontecer. Da mesma forma, não faça propagandas de outra marca, pois o fanboy continuará vestindo a camisa de sua favorita. Não critique piamente a filosofia do clube dele – ou da marca, nesse caso –, pois isso só vai acirrar a discussão. Acima de tudo, não coloque a paixão desse “torcedor” em xeque porque ele vai retrucar na mesma moeda e dar início a uma interminável discussão.

Veja o que você não deve dizer:

  • A um sonysta: “Você vai desbloquear esse console?”;
  • A um caixista: “Quantos jogos a LIVE te deu esse mês mesmo?”;
  • A um Nintendista: “Quando você vai comprar um video game sério?”.

(Fonte da imagem: Reprodução/Gameblast)

Enquanto isso, os jogadores de PC assistem de camarote e dão risada

Claro que, no balanço geral deste artigo, estamos descrevendo os perfis mais comuns e “radicais”. Os jogadores de PC devem ser considerados, mas sempre se mostram mais neutros com relação a opiniões sobre os consoles. Há registros de “PCeístas” por aí, mas eles costumam ser bastante equilibrados. Na verdade, eles assistem de camarote a todo o campo de batalha em que os fanboys se digladiam e dão risadas.

O vídeo a seguir bombou na internet quando a Microsoft anunciou o “family share” do Xbox One antes de ter cancelado suas políticas restritivas. Francis, o rapaz discursando em frente à câmera, esbraveja toda sua fúria e destrói um Kinect diante dos olhos de todo mundo:

A concorrência sadia: quem sai ganhando? Todos nós

Não adianta torcer para que a outra marca se dê mal. Muitos pregam o fim da Nintendo dizendo que ela pode seguir o mesmo caminho da SEGA, outros torcem para que o Xbox One sepulte a Microsoft nos games e muitos praguejam a Sony para que a sua rede seja invadida novamente e culmine no fim da PSN. Isso é saudável? Jamais.

Quanto mais consoles, melhor para todo mundo. Os consumidores fomentam o mercado. O leque de opções não é apenas “legal”: é algo necessário. Tudo funciona como uma espécie de gangorra em que uma marca constantemente “empurra” a outra, obrigando-a a implementar melhorias em serviços, produtos para o jogador, preços de jogos, hardware etc. Se a marca X não melhorar, a Y pode ultrapassá-la. Enquanto isso, a marca Z pode assistir a toda essa briga e se aproveitar da situação alheia para dar uma arrancada.

Assim o mercado funciona: uma marca sustenta a outra e nenhuma pode reinar sozinha na cadeia do consumismo, ou em algum momento essa marca pode avacalhar os consumidores – afinal, eles não terão outra opção.

Via BJ

Você sabia que o TecMundo está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.