Autodestruição: como novos eletrônicos podem mudar a medicina e a guerra

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(Fonte da imagem: Reprodução/The Verge)

Obsolescência. O termo tem se tornado cada vez mais comum na indústria de eletrônicos. Antigamente, tínhamos a sensação de que os equipamentos eram construídos de forma a durar um tempo maior. Entretanto, na atualidade, muitos modelos de aparelhos já chegam ao mercado com data para morrer – ou deixar de ter assistência técnica.

O que você talvez não saiba é que essa “obsolescência”, muitas vezes programada, pode acabar se tornando um dos grandes méritos da indústria nos próximos anos, podendo até mesmo revolucionar algumas áreas da medicina e mudar por completo a maneira como as grandes nações lutam em uma guerra.

Missão dada é missão cumprida

A meta da indústria sempre foi a de construir bens duráveis, cada vez mais resistentes, com o menor custo possível. Contudo, no futuro, alguns dispositivos podem ser construídos com o objetivo de cumprir uma única missão e, depois disso, podem automaticamente deixar de existir.

Inúmeras pesquisas na atualidade estão focadas nos chamados “eletrônicos de transição”. E, por mais curioso que possa ser, o seu corpo pode ser o primeiro palco para os testes desse tipo de tecnologia. “Imagine as possibilidades que você pode criar uma vez que você começa a pensar em eletrônicos que desaparecem por completo quando programados e controlados com essa finalidade”, explica John Rogers, PhD da Universidade de Illinois.

O cientista é líder de uma equipe de engenheiros biomédicos norte-americanos que está trabalhando justamente em projetos relacionados a esse tipo de dispositivo eletrônico. Um dia esses gadgets podem atingir um status capaz de revolucionar completamente a indústria de eletrônicos. Porém, enquanto esse dia não chega, Rogers e seus comandados se debruçam em pesquisas voltadas para a medicina e para o uso militar.

(Fonte da imagem: Shutterstock)

Primeiras versões em alguns anos

O progresso desse tipo de dispositivo tem sido rápido. Em princípio os cientistas estão interessados em gadgets voltados para a medicina, como sensores que podem ser implantados e dispositivos aplicadores de medicamentos. Da mesma forma, dispositivos militares para monitoramento de ambiente também encabeçam a lista de gadgets mais desejados.

Segundo os pesquisadores, os primeiros gadgets que simplesmente “desaparecem” após cumprir a sua missão devem aparecer nos próximos três anos. Testes preliminares, apresentados durante o American Chemical Society, mostraram que experiências feitas com animais, que receberam dispositivos wireless com sistema integrado a outro gadget externo, foram bem-sucedidas.

“Estamos avançando rápido. Não posso precisar nenhum prazo, mas posso afirmar que já percorremos um longo caminho desde que começamos esse trabalho há alguns meses”, explica John Rogers, que contou com o apoio da DARPA para o desenvolvimento preliminar de suas pesquisas.

(Fonte da imagem: Revista Galileu)

Mudança de paradigmas

Para chegar a dispositivos como esses, Rogers e seus pesquisadores precisaram mudar completamente a mentalidade já enraizada nas grandes indústrias, imaginando novamente cada tipo de componente, desde os semicondutores aos suprimentos de energia.

Os novos eletrônicos são compostos por materiais biocompatíveis: o silício, que já é um padrão na indústria, é dividido em camadas ultrafinas e que podem ser dissolvidas; o magnésio age como condutor; e camadas de óxido de magnésio envolvidas por uma fibra de seda recobrem todo o dispositivo.

A vida útil do novo gadget vai depender, ao menos em tese, do quão grossa é essa última camada e, dessa forma, a dissolução do material pode demorar desde poucos dias até alguns anos.

“Esse é o tipo de aplicação que pode mudar completamente as regras do jogo”, afirma Rogers, se referindo ao termo “game changer”, utilizado na indústria para descrever produtos que mudam completamente um segmento do mercado. Para “abastecer” esses gadgets, um sistema wireless converte os sinais de radiofrequência em energia elétrica.

“Imagine que alguém insere um dispositivo desses em seu coração para uma cirurgia. O coração está batendo e podemos aproveitar o movimento dos batimentos cardíacos para gerar energia a partir disso”, acrescenta Rogers.

Usos militares

Não é só a medicina que pode encontrar muitos benefícios com esse novo tipo de tecnologia. Os usos militares também podem ganhar muitas novas possibilidades caso uma tecnologia como essa esteja disponível. A DARPA já enxergou o potencial das novas ferramentas e, por conta disso, solicitou propostas para um programa chamado VAPR (Vanishing Programmable Resources).

A ideia é criar “eletrônicos de transição” com usos voltados para a defesa nacional. Entretanto, quais dispositivos exatamente serão criados a partir das pesquisas permanece sendo um mistério. Contudo, sabe-se que equipamentos de vigilância estão entre os projetos prioritários. Será que o mundo está preparado para câmeras de segurança com hora marcada para desaparecer?

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