Os verdadeiros piratas do Vale do Silício

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Lançado no final da década de 90, o filme “Piratas do Vale do Silício” é considerado pelos aficionados em tecnologia como uma das obras mais importantes do gênero. A produção mostra como Bill Gates e Steve Jobs, ainda jovens, fundaram a Microsoft e a Apple, estabelecendo a concorrência entre ambas e travando verdadeiras batalhas estratégicas pela conquista do mercado.

Hoje os tempos são outros e, diferente do que acontecia nos anos 70 e 80, a competitividade entre as empresas é cada vez mais brutal e acirrada. Não basta uma companhia apresentar um bom produto, é preciso colocá-lo no mercado primeiro e, se a cópia é inevitável, que seja possível ganhar dinheiro sobre ele pelo maior tempo possível.

Os órgãos judiciais de nenhum país conseguem acompanhar o ritmo frenético dos lançamentos tecnológicos. Assim, algumas empresas preferem correr o risco de copiar um produto e arcar com as consequências de um processo, colhendo os lucros enquanto podem, pagando multas que ficam abaixo do faturamento e partindo para outras empreitadas.

Até que ponto os piratas do Vale do Silício estão dispostos a chegar para garantir alguns milhões na conta? Casos ocorridos nos últimos anos e novas ideias prestes a serem colocadas em prática mostram que parece não haver limites.

Piratas em alto-mar?

(Fonte da imagem: Blueseed)

O estereótipo do pirata tem como principal referência os saqueadores de navios que agiam em especial nos séculos XVI e XVII. O termo foi adotado posteriormente na tecnologia e hoje é associado ao desrespeito a contratos e convenções internacionais, como distribuição de material sem o pagamento do direito autoral ou falsificação de produtos.

Contudo, uma ideia polêmica nascida no Vale do Silício pode levar de volta às águas o mesmo clima do auge da época dos clássicos piratas, mas em vez de navios e cidades, os “novos saques” seriam feitos pela internet, criando uma verdadeira zona sem lei não compreendida por tratados internacionais.

O projeto atende pelo nome de Blueseed e trata-se de um navio que se manteria em alto-mar e funcionaria como uma espécie de incubadora de projetos de tecnologia. Dentro dele, funcionários de diversas localidades do planeta estariam habilitados a trabalhar sem a necessidade de visto de imigração, podendo colocar à prova técnicas não tão lícitas, uma vez que a legislação dos Estados Unidos não se aplicaria às condições de trabalho.

A localidade peculiar ofereceria aos seus empregados condições completas de trabalho. Segundo informações divulgadas no site do projeto, o custo de vida em uma cidade como San Francisco, por exemplo, gira em torno de US$ 1.750, levando-se em consideração moradia, alimentação e gastos eventuais.

A bordo do navio, os funcionários residentes teriam um custo médio de US$ 1,2 mil por mês, bem abaixo do valor que devem receber para participar de projetos envolvendo tecnologia de ponta. Além disso, estariam cobertos pelas brechas na lei, podendo ousar um pouco mais sem se preocupar com certos limites éticos e legais.

O grande empecilho para o projeto, por enquanto, é apenas a falta de investimentos ou a presença de empresas de porte apoiando a empreitada. A logística de realizar algo em alto-mar é bastante complexa e, por isso, as startups encubadas dentro do Blueseed precisam no mínimo garantir a viabilidade do investimento.

Pirataria moderna

Stuxnet

Diagrama de funcionamento do sistema SCADA (Fonte da imagem: Siemens)

Um dos vírus mais devastadores já criados para a espionagem industrial é o Stuxnet. Trata-se de um programa malicioso que atacou, até agora, apenas sistemas de controle industrial da marca Siemens (SCADA). O problema é que estes sistemas são utilizados por muitas indústrias, inclusive nucleares. O que as pesquisas disseram até agora é que ele se espalha por meio de pendrives infectados, devido a falhas no Windows que ainda não foram solucionadas.

Atacando esses sistemas de controle industrial, o Stuxnet realiza uma ponte entre o computador invadido e um servidor remoto, que é para onde vão todas as informações roubadas pelo worm. No processo, são capturados projetos de pesquisa e relatórios, além de o acesso remoto às configurações do sistema SCADA se tornar permitido.

Detectado também em indústrias nucleares iranianas, o Stuxnet já foi diagnosticado em milhões de computadores chineses e milhares de computadores na Índia, Indonésia, Estados Unidos, Austrália, Inglaterra e Paquistão. Números não oficiais apontam ainda para infecções na Alemanha e em outros países na Europa.

Operação Aurora

Desde a metade de 2009 até o final de 2010, a Google revelou que foi vítima de uma série de ataques que teriam como origem autoridades chinesas. O incidente ficou conhecido como Operação Aurora e levou a companhia a suspender seu serviço de buscas no país asiático.

Documentos publicados pelo site WikiLeaks confirmaram que os ataques foram conduzidos por membros do principal órgão regulatório chinês. Os documentos mencionavam ainda que a China vem executando desde 2002 ataques contra o governo e empresas privadas dos EUA. Em declaração oficial, a Google destacou que propriedade intelectual sua foi roubada e contas de email de dissidentes do governo chinês foram crackeadas.

Mais ataques

Em agosto deste ano, a McAfee descobriu uma série de ataques realizados envolvendo a infiltração em 72 organizações mundiais, entre as quais estavam a ONU e o Comitê Olímpico Internacional. A empresa acredita que exista um “protagonista estatal” por trás dos ataques, mas não conseguiu identificar o país. Estados Unidos, Coreia do Sul, Vietnã, Taiwan e Canadá estão entre as vítimas.

No caso da ONU, os hackers invadiram o sistema de computação de seu secretariado em Genebra, em 2008, e operaram em silêncio na rede durante dois anos, obtendo discretamente grande volume de dados sigilosos, de acordo com a McAfee. Trata-se da maior transferência de riqueza de todos os tempos, em termos de propriedade intelectual.

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