Conversamos com Richard Stallman, o guru do software livre

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(Fonte da imagem: Reprodução/Liberapedia)

Uma das primeiras atitudes de Richard Stallman ao entrar no auditório da Administração, no Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná (UFPR) nesta quinta-feira (14), foi olhar para a garrafa de água oferecida pela organização. “Me desculpem, mas eu não vou beber isso. Essa marca pertence à Coca-Cola Company, e eu não consumo nenhum produto deles”. A mesma precaução existe com relação às fotos: “Por favor, se me fotografarem, não coloquem no Facebook. Não quero que eles saibam onde e com quem eu estou”, explicou.

O ideal contrário às grandes corporações se reflete em praticamente todas as opiniões do programador e ativista, que é fundador da Free Software Foundation (FSF), criador do GNU Project (e algumas ramificações, como o editor de texto GNU Emacs) e pai do movimento do software livre. A palestra, que contou com um auditório lotado de estudantes e professores de engenharias e cursos relacionados à informática, teve como tema o free software, a contribuição de Stallman para a causa e muitas críticas às gigantes da tecnologia.

Um sonho de liberdade

O GNU. (Fonte da imagem: Divulgação/GNU Project)

De acordo com Richard Stallman, o software livre diz respeito não ao preço do produto, mas à liberdade em geral – nada de dinheiro, mas poder e controle. “Os programas privados são como uma colonização digital”, explica. São quatro as regras para que um software seja considerado livre:

  • Liberdade para executar o programa quando e se você quiser;
  • Liberdade para estudar e mudar o código-fonte do programa;
  • Liberdade para ajudar a comunidade distribuindo cópias do programa;
  • Liberdade para criar suas próprias versões do programa e compartilhá-las.

Segundo Stallman, em programas privados, repassar cópias é considerado ilegal, já que isso viola os Termos de Uso e Serviço do produto. Mas, entre cometer esse pequeno crime e negar o pedido de um amigo, ele escolhe a primeira opção. “Nesse caso, pelo menos o mal é para quem merece”, argumenta. E, assim como a heresia de falar “sistema operacional Linux” na frente dele (tem que ser GNU/Linux), outro problema está em se referir ao software livre como open source (ou “de código aberto”). O Tecmundo já explicou essa diferença em um artigo.

Conheça seus inimigos

Durante a palestra, Stallman falou um pouco sobre que empresas ele considera um problema para o avanço do software livre – e não faltam brincadeiras na hora de citar os rivais.

Microsoft

“O Windows é um malware universal”, critica o ativista. Para ele, a criação da Microsoft lê e envia dados pessoais para a empresa, restringe o acesso aos programas privados e ainda conta com inúmeras backdoors (portas de entrada para o sistema operacional, o que pode ser bom ou não), como as atualizações automáticas.

Apple

“O Mac OS sempre foi um grande controlador, mas o problema piorou muito com as iCoisas”, conta Stallman, se referindo à família de eletrônicos iPod, iPad e iPhone. Sua principal crítica é direcionada à Apple Store, que censura aplicativos e só permite a entrada do que for aprovado por eles.

Amazon

(Fonte da imagem: Divulgação/Amazon)

Stallman batizou o leitor digital Kindle de “Swindle” (o inglês para “malandragem”, “enganação”). As críticas são que a Amazon mantém um banco de dados com o que você lê, não vende versões físicas dos livros e só aceita cartões de crédito. Além disso, ela pode apagar os produtos do consumidor quando quiser, algo que não poderia ser feito no caso do papel.

Antipirataria

Para ele, o problema está no conceito: compartilhar é algo bom, portanto disponibilizar cópias de produtos não deveria ser visto como algo negativo pelas pessoas. “Se me perguntam o que acho de pirataria, digo que roubar barcos é muito ruim”, relata. “Se questionam sobre os piratas de filmes, eu respondo que adorei a trilogia ‘Piratas do Caribe’”, completa o bem-humorado Stallman.

De cara com a fera

Stallman é palestrante e ativista há mais de 10 anos. (Fonte da imagem: GNU Project)

Depois da palestra, o Tecmundo fez algumas perguntas a mais para essa lenda do software livre. Confira:

Por que o GNU/Linux não conseguiu se estabelecer com números proporcionais aos demais sistemas operacionais nos computadores?

Olha, na década de 1990 ele era bastante vendido em lojas, mas hoje em dia as pessoas apenas fazem o download do sistema operacional. Eu não sei o motivo de isso não acontecer mais, seria apenas um palpite sem muita precisão.

A tecnologia móvel parece dominada por iOS e Android. Há espaço para um sistema operacional livre?

Até existem alguns celulares com suporte para rodar GNU/Linux, mas eles não são 100% livres, então não os levo em conta. O problema é que não há aparelhos existentes para rodar esse sistema operacional, é difícil fazer com que eles apareçam. Mas eu continuo tentando encontrar um aparelho assim.

Por que o software livre é tão popular entre um público mais jovem?

Eu não faço ideia, não sou mais jovem (risos). Mas, quando eu era novo, aprendi a gostar porque eu vivi em uma comunidade de software livre, isso na década de 1970. Essa comunidade morreu e os programas privados eram tão feios que eu me recusei a ir para esse lado. O único jeito de evitar isso era parar de usar computadores ou criar a própria liberdade.

A disputa do GNU/Linux com os sistemas operacionais privados pode ser considerada uma guerra?

A meta [da comunidade de software livre] é sempre “software privado zero”, mas a ideia nunca é sobre liberar, mas dar aos outros a possibilidade de liberdade.

Por favor, deixe um recado final para os leitores do Tecmundo.

Vocês deveriam insistir em liberdade. E devem estar dispostos a fazer sacrifícios ocasionalmente por sua liberdade. Eu encontro várias pessoas por aí que dizem “Puxa, eu adoraria mudar para o software livre, você pode me dar um programa que seja tão conveniente e sem problemas quanto o privado que eu uso agora?”. O que eles realmente querem dizer é que eles não colocam valor nenhum na liberdade! E essas pessoas que não acreditam vão acabar perdendo. Elas são tolas.

Para cantar

Todo país, time de futebol ou movimento que se preze precisa de um tema, uma música que resuma os ideais da instituição. Com o software livre, não é diferente: Stallman pegou um ritmo folk búlgaro e compôs a “Free Software Song”, um hino à liberdade digital. No site do Projeto GNU, você pode cantar com a letra original e até baixar uma gravação - apenas nas extensões OGG e AU, ambos formatos totalmente livres, claro.

...

Durante a entrevista, perguntamos ainda sobre o que ele acha de projetos brasileiros em relação ao software livre. Ele disse não conhecer, mas ficou interessado em um programa desenvolvido por uma professora universitária de Curitiba que ajuda alunos surdos a aprenderem a linguagem de sinais, dizendo até que estaria disposto a lançá-lo como um pacote para o GNU/Linux. Estamos com moral!

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