O Kissuco vai ferver! Conheça a rotina da cobertura policial pelo Twitter

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 (Fonte da imagem: Reprodução/Plantão 190)

Quem é de Curitiba já conhece bem o Twitter do Plantão 190: com quase 17 mil seguidores, ele chama a atenção pela irreverência e pela velocidade com que traz informações. Cobrindo grande parte dos crimes da capital em tempo real, o Plantão 190 hoje é uma das contas de Twitter mais famosas do Paraná.

Entrevistamos João Carlos Frigério, fotógrafo e diretor do Plantão 190, para conhecer de perto o dia a dia de quem leva o perigo como profissão. Encontre um lugar confortável e fique preparado: na nossa entrevista, a marmita vai azedar!

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Assim que chegou à NZN, João parou a redação. Todos queriam conhecer pessoalmente a pessoa por trás dos posts (alguns muito divertidos, outros muito sérios) sobre os crimes na cidade. Uma das coisas que mais chamam a atenção é que ele está sempre conectado e as informações não param de chegar.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

Deixamos o diretor do Plantão 190 à vontade para trabalhar durante a entrevista, afinal, Curitiba não para. Cheio de histórias emocionantes para contar, ele não deixa de lado seu smartphone, recebendo e repassando informações para a população.

Como surgiu a ideia do Plantão 190? Você já trabalhava com isso antes do Twiter?

Eu comecei na área de fotojornalismo e parti para o fotojornalismo policial. Em 2008, resolvi lançar o site do Plantão 190. Nessa época, eu fazia faculdade de Sistemas para a Internet e estava buscando novas tecnologias, o que dava para fazer para inovar. Tinham acabado de lançar o QIK (link), então eu comecei a fazer streaming. Acho que eu fui um dos primeiros no Brasil a fazer streaming através de celular.

Eu fiz o site, coloquei o módulo e isso explodiu na internet. Eu ia fazer o streaming de qualquer ocorrência. Eu já tinha o Twitter e avisava “Vamos entrar ao vivo no site”. O site bombava, todo mundo queria ver. Mas naquela época eu tinha poucos seguidores, o Twitter ainda não era como é hoje. Apesar disso, o streaming ajudou a alavancar muito o site.

E por que a escolha do Twitter?

Eu participava de um grupo de blogueiros que fazia encontros toda sexta-feira e foi lá que eu conheci o Twitter. Eu pensava: “O que eu vou falar no meu Twitter? Não tenho nada o que falar”. Nessa época, eu não tinha o perfil do Plantão 190, mas comecei a noticiar na minha conta. Depois fiz a conta do site. A essa altura, nenhum portal aqui no Paraná tinha Twitter, então o Plantão começou a crescer.

(Fonte da imagem: Reprodução/Plantão 190)

Mesmo com uma página no Facebook, a interação do público é bem maior no Twitter. Por que você acha que isso acontece?

Eu não vi no Facebook uma fonte de informação tão rápida como é o Twitter. O Twitter é muito mais dinâmico, então as pessoas interagem mais. Hoje o público não quer uma coisa formal, o público quer interação. Se você não interagir com eles, você não vai conseguir destaque.

Qual é o tamanho da equipe? Para quem segue o perfil, a impressão é de que o Plantão 190 está por toda a parte!

Eu trabalho com mais um amigo (@eduardo_), mas ele faz para ajudar e não tem tido muito tempo para atualizar. Antigamente ele atualizava mais, mas de vez em quando ele faz uns “fervos” no Twitter, o que ajuda bastante. Quando tem tempo ele ajuda muito, mas no momento quem está tocando sou eu.

Grande parte das denúncias chega por meio do próprio Twitter, enviada pelo público. Você recebe muitos “trotes” pela rede?

Muito pouco. Geralmente as pessoas que me passam informação já fazem isso há algum tempo e já ganharam a minha confiança. Tem muita informação que eu olho e já penso “Não, não é verdade isso”. Se eu fico na dúvida, não solto.

Como você usa a tecnologia para ajudar no trabalho?

Eu penso em investir mais nessa área. Sempre ando com a câmera, o celular e o notebook. Uso o 3G e, às vezes, transformo o celular em modem para o notebook. É uma coisa que eu aprendi: “Nunca ande sem as ferramentas de trabalho”. Cedo ou tarde você consegue um flagrante.

(Fonte da imagem: Reprodução/Plantão 190)

Para muitas pessoas, depois de chamar a polícia, a primeira reação é avisar o Plantão 190 no Twitter. Você sabe de algum caso em que a divulgação ajudou na hora de encontrar ou identificar um criminoso?

Nesses casos não, mas ajuda muito na questão de documentos. Eu nunca vou a fundo para saber no que deu, mas já ocorreram situações com pessoas desaparecidas. Uma vez, anunciei a morte de uma menina, e o irmão dela descobriu pelo Plantão 190. Ela estava desaparecida e ele já tinha procurado em todos os lugares. O irmão até veio me agradecer, dizendo “Mesmo que tenha sido uma notícia ruim, você ajudou muito”.

Um vídeo famoso na web mostra um repórter presenciando uma tentativa de execução durante uma matéria. Na história do Plantão 190, você já viu algo parecido? Você já foi sequestrado uma vez. Como isso aconteceu? Você já passou por outras situações de perigo extremo?

Na época em que eu trabalhava como cinegrafista na TV, aconteceu uma chacina. Nós fomos lá e o lugar estava cheio. Toda a imprensa e polícia estavam lá, então estava totalmente seguro. Como chovia muito e estava molhando o equipamento, resolvemos terminar a matéria no outro dia. Fizemos só o básico, garantimos as imagens e voltamos no final da tarde do outro dia.

Quando chegamos lá, ainda estava toda a imprensa, mas não tinha mais polícia. Estava tranquilo, até que veio um cara e perguntou de onde a gente era. Quando a gente falou que era do 190, ele só jogou o capuz, colocou a arma na minha cabeça e falou “Vambora que ‘cês vão morrer”. Ele foi empurrando a gente para um beco e a única certeza que eu tinha era de que eu ia morrer ali.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)Um pouco antes de chegar ao lugar em que tinha acontecido a chacina, eu travei e pedi calma para ele, mas ele mirou na cabeça do repórter. Eu falei “Ó, a gente veio aqui pra te ajudar, mas já que você não quer ajuda, então a gente vai embora e não vai fazer matéria. A gente vai embora” e fui me afastando.

Nisso, ele deu a brecha para eu me afastar. Eu saí, mas não dei as costas pra ele. Na hora em que  cheguei à rua, comecei a correr e fui até o carro.

Depois disso, eu comecei a dar mais valor para vida e esse não é um erro que eu costumo cometer mais. Se você entra em um local de risco, você não entra sem polícia.

Aquele caso do vídeo é um absurdo. Às vezes, por causa de um furo de reportagem, você coloca a sua vida em risco e nenhuma matéria vale isso.

Quando fui para Londrina, eu levei um tiro lá. Tinha um roubo em andamento e, quando eu cheguei, a situação já estava controlada, mas um oficial foi abrir a viatura e escorregou. Ele estava com uma submetralhadora e ela disparou. O tiro bateu no chão, subiu e me acertou.

Comecei a gritar “Fui atingido!”. Aquela dor dá a sensação de alguma coisa queimando, mas eu passava a mão e não saía nada de sangue. Eu até pensei “Será que eu sou blindado?” (risos), mas até aí ninguém sabia que o tiro tinha ricocheteado. Nisso eu vi o chumbo no chão e vi que não tinha entrado estilhaço nenhum.

Quais foram as histórias mais engraçadas que você já viu ou recebeu?

Uma vez aconteceu um acidente, o cara estava bêbado e fez um espetáculo. A gente começou a fazer a matéria e o cara pulou de dentro da ambulância porque queria falar e, de repente, ele saiu correndo para fugir. Aí fomos nós e a polícia correndo atrás do cara. De repente, ele tirou a roupa e começou a dançar (risos).

Teve uma vez também que o Siate (Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma) foi atender uma queda de patinete. Todo mundo pensou que era uma criança, mas quando chegou lá o Siate avisou: “Chegamos aqui e é uma garotinha de 42 anos” (risos). Até o Siate tirou uma casquinha da situação.

Pelo nome “Plantão 190”, alguém já confundiu você com a polícia?

Direto. Agora não tanto, mas tinha uma época que o pessoal mandava muita denúncia. Pelo email você consegue descobrir se é verídico ou não; nesses casos, eu só repasso para a polícia.

Você criou muitos bordões que se tornaram famosos na internet, inclusive, sendo repetidos por celebridades da web. Nada de falar que “a coisa ficou feia”. No Plantão, “a marmita azeda”, “o caqui preteia” e o “kissuco ferve”. Como essas expressões aparecem?

O “kissuco fervendo” eu ouvi alguém falando em algum lugar e pensei: “Poxa, isso eu posso usar no cotidiano”. A partir daí foram os próprios seguidores que passavam as ideias, eu gostava dos bordões e comecei a usar. Tirando o do “kissuco”, os próprios seguidores foram falando o resto.

(Fonte da imagem: Reprodução/Plantão 190)

Essa foi uma grande mudança que dividiu o Plantão. Antes eu era muito formal, igual a todo mundo é hoje, mas percebi que comecei a perder muitos seguidores. Eu notei que, como era muito sério, tanta violência estava preocupando as pessoas, então comecei a mudar a forma como dava a informação e o Plantão começou a crescer por causa disso. Mas precisa ter um feeling pra saber a hora que você pode brincar e a hora que tem que falar sério.

Não deve demorar muito para que o Plantão chegue aos 20 mil followers. Como foi esse crescimento? Você esperava tanto sucesso?

O boom mesmo foi em agosto do ano passado. O recorde foi um dia em que eu ganhei mais de mil seguidores em duas horas, por causa de um furo de ameaça de bomba no aeroporto de Guarulhos. Um amigo meu estava lá e me avisou. Eu noticiei e ninguém estava acreditando, já que os grandes portais não noticiaram nada.

Cobri isso por uma hora e meia até o primeiro portal soltar. Um pouco antes disso, alguém me mandou uma foto de lá de dentro, eu postei, a Rosana Hermann (@rosana) retwittou e aí foi o boom. Eu esperava repercussão local, mas nunca esperava que teria repercussão em outras cidades como São Paulo e Rio de Janeiro.

O que você espera do Plantão 190 daqui para frente? Você pensa em abrir “filiais” do Plantão em outras cidades?

Acho que ele vai crescer muito ainda. Eu quero sim expandi-lo para outras capitais. A ideia é colocar gente nas capitais, São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.

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