Entrevista: Moacyr Alves, criador do Jogo Justo

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Na edição passada da Campus Party Brasil, o projeto Jogo Justo tinha apenas seis meses de vida, muitas ideias em mente e uma expectativa muito grande por parte dos gamers e consumidores. As propostas eram ousadas e o temor de que tudo não passasse de mais uma proposta que não vai adiante era grande.

Porém, um ano depois, Moacyr Alves, criador do Jogo Justo, e todas as empresas e entidades que apoiaram o projeto têm muitos motivos para comemorar. Por conta do pontapé inicial dado por sua equipe, hoje os games estão incluídos na Lei Rouanet e há uma associação representando a classe.

Agora presidente da ACIGAMES – Associação Comercial, Industrial e Cultural de Games , Moacyr falou com exclusividade à equipe do Baixaki e do Tecmundo sobre as perspectivas de trabalho para 2012 e sobre as conquistas que a batalha por um mercado mais forte de games trouxe para os brasileiros nos últimos 12 meses.

Moacyr Alves, presidente da ACIGAMES. (Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

Tecmundo: Em 2011, o projeto Jogo Justo deixou de ser apenas uma ideia para se tornar algo concreto, sendo mencionado por ministros e membros do governo. Além disso, foi criada a ACIGAMES, da qual você é presidente. Qual é o balanço que você faz dos avanços conseguidos em função dessa iniciativa?

Moacyr Alves: No começo era um projeto bem amador mesmo, até que ele evoluiu e decidimos criar a ACIGAMES. O Moacyr sozinho era apenas uma pessoa atrás de um projeto. O Moacyr presidente de uma associação é outra força. Crescemos muito forte e muito rápido e eu não esperava que o projeto fosse se transformar em tudo isso.

Hoje nós temos 117 filiados e 6 representações fora do país. Agora nós temos forças para falar com políticos e membros do governo porque representamos pelo menos 90% do mercado e até mesmo o ministro das Comunicações já falou que está procurando meios de viabilizar uma carga tributária mais baixa para os games.

Tecmundo: O ministro das Comunicações citou nesta semana que gostaria de ver consoles e softwares sendo produzidos no país. Qual é o caminho para que isso, de fato, se torne realidade?

Moacyr Alves: Estamos lutando agora para conseguir uma portaria que incentive a produção de jogos no Brasil. Para se reduzir impostos, nossa premissa é a de criar uma cultura gamer. Estamos com uma parceria com o governo para lançar um projeto chamado BR Games, uma premiação para os melhores desenvolvedores de jogos. Além disso, estamos trabalhando no intuito de reduzir a carga tributária para os desenvolvedores, que hoje gira em torno de 40%.

Fechamos hoje uma parceria com o SEBRAE em âmbito nacional que permitirá oferecer cursos de desenvolvimento de jogos e para comercialização de games, sem custo nenhum. Estamos reunindo e unindo o mercado em torno de um bem comum.

Ministro das Comunicações pilota simulador na Campus Party. (Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

Tecmundo: E como tem sido a aceitação por parte do público? Em um primeiro momento, muitos apoiaram em razão do benefício direto que teriam, no caso o desconto nos jogos. Mas depois disso, o projeto cresceu e passou a lutar em outras frentes. Como estão os apoios nesse sentido?

Moacyr Alves: Teve parte do público que não gostou. Alguns chegaram a dizer que não queremos mais reduzir impostos, que viramos associação e desistimos da ideia inicial. Mas, ao contrário disso, nós evoluímos, nós passamos para o próximo nível. Nós percebemos que estávamos indo por um caminho errado, tentando encontrar deputados e fazer com que eles emplacassem um projeto de lei.

Porém, até achar um parlamentar que queira tocar o projeto e esse trâmite legal possa seguir, podem se passar muitas vezes até 10 anos. Como associação, conseguimos colocar os jogos na Lei Rouanet em apenas um ano. É possível que nós consigamos alcançar ainda neste ano a redução da carga tributária, de uma forma mais eficiente. É uma pena que boa parte do público não veja isso.

Fizemos o primeiro Fórum de Games do Brasil, onde colocamos distribuidores, parte da indústria e os lojistas frente a frente para debater. Em 28 anos de games no Brasil isso nunca tinha acontecido. Muitos gostaram e muitos não gostaram, mas estamos buscando um resultado que seja benéfico para todos. Hoje o mercado lá fora nos vê de outro jeito e têm nos consumidores brasileiros muitas expectativas.

Tecmundo: No último mês tem se falado bastante nos projetos antipirataria, como o SOPA e o ACTA e, em seus projetos, você sempre demonstrou uma preocupação com os lojistas. De que maneira você acredita que a pirataria influencia no mercado de games?

Moacyr Alves: Fizemos uma pesquisa sobre isso no ano passado. Teve um jogo de Xbox que foi lançado que, em menos de 1 mês, tinha 850 mil downloads ilegais. Se 10% dessas pessoas tivessem comprado o game, 85 mil pessoas, a um preço médio de R$ 150, estaríamos falando de R$ 12 milhões, dinheiro esse que não foi para o bolso de ninguém.

Com isso, percebemos claramente que há um potencial enorme de mercado no país, entretanto não acho que essas leis vão resolver alguma coisa. Podem minimizar talvez, mas gerando outros tipos de problemas. No caso do Brasil, o problema é cultural. Já está na cultura do brasileiro que a pirataria é uma coisa boa, mas isso é errado. Para quem está pagando menos está ótimo, mas e o desenvolvedor do jogo?

Tecmundo: Quais são as principais metas da ACIGAMES ao longo de 2012? 

Moacyr Alves: O ano passado nosso foco foi na profissionalização do setor e na própria associação. Já para este ano, as nossas maiores bandeiras são a redução da carga tributária e a questão de como auxiliar os desenvolvedores de pequeno e médio porte. A parceria que fechamos com o SEBRAE vai ajudar muito nesse sentido.

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